domingo, 31 de julho de 2011

Estados e Estações.

A chuva caindo nada Bretã, pois que havia escolhido sair ao sol
de um inverno se indo numa terra quente.
Então tudo era um incomodo, e sentindo frio era fria em relação à chuva,
porque ela não estava nada preparada para um espírito molhado e em cinzas.
Mas havia abstraído um pouco a obsessão e queria um pouco de muda conexão.
Muda?
Apenas as plavras soavam silenciosas e mostravam os caminhos tortuosos que agora
seguia perseguindo apenas a sobrevivência.
Estava temendo entregas e recomeços, tudo à um preço braçal demais, e isso até era
bom porque o corpo em movimentos fragmentava mais as torturas da mente revoltosa
e emaranhada em linhas e linhas e linhas, on line... on line... on line...
Então seguia funcionando no piloto automático, guardando reservas de sentimentos, temendo.
Agora precisava voltar a ter sonhos mínimamentes concretos, como possuir um luxo
que passara a ser só mais uma necessidade quase básica, ou até mesmo voltar para um recomeço de qualquer ponto do seu passado abandonado sem conclusão.
Qualquer plano urgente de inclusão, mesmo que dure apenas o tempo da cura.
Porque sabia que mesmo pré-produzidamente, sua mente andava um tanto quanto doente, e a alma agonizada no seu ostracismo autoimposto, por medo, desconfiança, e dores petrificadas, buscava na sua prisão fictícia, abrir alguma outra porta para a volta à sua livre vida.
Não havia.
Em qualquer porta parecia que seriam abertos os sutis sinais de perseguição e vigilância omissa. Como se quase todos fossem donos dos percursos da sua trajetória.
Era a cura ou a cura.
Por isso mesmo precisava sair às ruas, assistir ao mundo ruir e recriar-se nas telas, nas linhas,  e linhas, linhas...
O mundo quase todo funcionando on line, on line, on line...
E saiu tentada a tentar fingir-se de livre, aparentemente livre, e apesar da noite em temporal, foi possível sentir um beijo do sol atravessando uma pequena extensão de azul, então saiu sem culpa em paz e esperanças verticais.
E o corpo banhado em óleo esperava compensações mais saudáveis e prazerosas,
apesar do peso dos dias ainda latejando nos músculos e mãos.
Mas a mente não.
E foi determinado um figurino para um domingo de sol.
Mas choveu.
E não era uma chuva Bretã, porque ela estava vestida para uma manhã de luz em fins de inverno de terra em brasa.
Mas conseguiu um guarda-chuva preto, que talvez pudesse ver-se Londrino,
se não destoasse tanto.
E eriçada de frio dos pés à cabeça, detestou aquela chuva apenas previsível.
Era a alma irritando-se com o erro de cálculo que deixava o corpo sofrendo os consequentes incomondos.

domingo, 24 de julho de 2011

Para mais Um...

Então deu um último trago sem terminar o branco,
e disse de si para si:
_Foda-se!
Mesmo sabendo, sentindo, aquela pontada no peito
cheio de resignação, mais do que convicção ou determinação.
Porque, por mais que dissesse "Não." sentia-se dentro do jogo.
E convencia-se superficialmente de que não sabia jogar, e no âmago
sabia que estava exatamente fazendo o jogo do qual não queria participar.
Não adiantaria não ser hipócrita e dissimular verdades guardando apenas
em seu self a sua verdade inteira e livre.
Não usaria drogas para pensar igual e normal dentro do contexto exigido
por Leis e costumes, precisava proteger a sua crença por mais inadmissível que fosse.
Só a hipocrisia em alguns muitos casos salva o raciocínio de não ser levado
à categoria animal de irracional.
Mas, e quando não se consegue ser hipócrita o tempo todo, quando não
se concorda em podar-se a própria liberdade de Ser e Estar apenas para
ter direito ao respeito e não se ver ferida a dignidade na sua condição mais humana?
Afinal de contas, e o livre arbítrio?
O preço era alto e sentia-se mais em miséria de si naufragando  num oceano
de incompreenções e compensações pesadas.
Por isso passou a apertar cada vez com mais frequência o sinal vermelho
do "Foda-se!", mesmo sentindo no íntimo um ínfimo de resignação.
Seguiria os caminhos fatais, jogando enquanto fingia não saber querer jogar,
e um dia, enfim chegaria o temível e inesperado "Game Over",
mas teria Sido e Estado, a seu jeito e anormalidade, mais uma anomalia social.

domingo, 17 de julho de 2011

Esquecendo
e errando o caminho
o amor ainda pulsava,
apesar de fraco e doente.
A obsessão sem recompensa.
Pensa.
O mal foi feito
e segue sem reparos.
Apenas paliativos
restaurando a superfície.
O silêncio continuará
e será preciso esquecer
para não se refugiar
na loucura.
A esperança foi perdida
e nunca mais nenhuma atenção,
disponível.
A omissão venceu
mais uma vez a coragem.
A possibilidade da verdade
se esvai dentro do tempo.
E tudo escorre.
Tudo corre.
Tudo morre.
Até o amor,
ainda que eterno.

Lara.

Sentia-se bem e o corpo estava solto dentro de um vestido de malha fina e fria.
O vestido era largo em decote qual canoa atravessando o colo.
Sentia-se livre e podia usufruir de tanta liberdade dentro de algodões,
trazia uma estrutura física leve, não à base de normas e conceitos, e sim à base de vulnerabilidade orgânica.
Mas o que importa é que esteticamente podia abusar de cores, estampas e larguras.
O corpo miúdo e pouco, não fazia peso dentro do modelo que o moldava um pouco a cada sopro de vento contrário, demarcando contornos quase íntimos.
Percorria ruas e deixava-se tomar de satisfação pessoal.
Respirava tranquila e transpirava algumas novas vontades que exalavam sutis desejos.
Queria apenas estar naquele momento em que o corpo sentia o deslizar da trama na pele, e buscar distanciar-se de fobias e neuras enquanto apreciava a estabilidade da mente e a liberdade do seu corpo.
Podia.
Ao menos naquele instante era tudo o que podia, e esse poder a impulsionava para adiante e além de meras perspectivas boas e ruins.
Podia desfrutar do seu estilo todo seu e raramente afetado por modismos e outras perfumarias.
Podia ser livre.
Podia.
Apenas naquele instante em que revestia-se de pink em detalhes de violeta e musgo.
Quando deu as últimas passadas, atravessou para dentro daquela realidade onde a mente sentia-se pesada e desconfortável.
Tentou abstrair-se dali, mas o vestido tornou-se inadequado, então vestiu outro figurino, e já era outro sentimento para seguir o dia.

Necessidades e privações.

_Preciso voltar a ouvir o Beet... e necessito reencontrar o Carl...
_Você precisa ponderar o sal.
_Então precisarei virar natureba.
_Não é para tanto radicalismo.
_Mas em quase tudo há sódio!
_Você precisa ouvir o Beet...
_Sem Cola...
_Quanta dramatização para tão pequenos sacrifícios.
_Ah, mas este já é um sacrifício antigo, porque dosagens altas poderiam ser over para o corpo.
_É, você deveria procurar rever o Carl... Sem a companhia da cafeína.
_E que tal então nicotina?
_Quanta culpa...
_Quero tanto ouvir o Beet...
_E escutar o que sempre tem a dizer o Carl...
_Usufruindo de poucas fritas sem aspecto de frituras, sorvendo um chá de hortelã fresca.
_Sempre unindo um tanto de mau com um tanto de bem...
_Um pouco de um compensa a presença destoada do outro, e há a necessidade de um pouco de caos orgânico.
_Punições...
_Voltarei a ouvir o Beet... saboreando um bom pedaço de Cacau.
_Mas por favor que se faça a presença do Carl...

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Questões

Quantos sãs
sabem quem são?
Não há respostas
para tais indagações.
Está sem as devidas
informações
sofre solitariamente
teme todas
as situações
e fragmaenta-se
em auto-perdões.
Doendo e sangrando
quase a todo tempo
e o pensamento
é uma nau sem
direções.

Acossado

domingo, 3 de julho de 2011

O Ris(s)oto fez mal.

O igrediente foi a mesquinharia,
e mesmo sentindo o peso, manteve a medida.
Sequer quis rever o valor do gesto no ato, e temperou
sem ânimo, mas firme na sua atitude, amargando o sabor
da mesquinhez que era ácido demais na sua consciência
que bradava surdamente o efeito que isso causaria ainda dia claro.
Não quis ouvir mesmo, ou não deu a devida atenção.
E saboreou a receita, sem mais sentir sequer soar qualquer censura.
Então depois de digerido a soma de todos igredientes, veio a cobrança
e vomitou a mesquinhez com crises doloridas que vinham direto da consciência.

E os sintomas produzidos eram tão somente os veredíctos sentenciados.
Drogou-se mais uma vez e rezou, implorou, fez juras e promessas perecíveis
em curtíssima validade.
Algumas horas depois de ter expelido toda a sua culpa, a droga surtiu o efeito
esperado, e sem mais agonias, riu por ter por tão pouco se desesperado.
Mas uma promessa se manteve, dizia respeito à não mesquinharia.