domingo, 25 de setembro de 2011

Droid Sans



Na metrópole andou como se seus circuitos tivessem sido sabotados. E desandou pelas ruas na sua liberdade vigiada quase crua, e percorreu os caminhos tortuosos da loucura. Cometeu crimes contra si mesma, e foi deixando partes da sua vida para trás, como se as normas de convivência reconhecíveis como passaporte para a aceitação da sociedade já tivessem perdido total importância para os seus restos de vida e sanidade perdida.
Era perseguida por onde quer que andasse e sentindo-se fora do contexto da normalidade passou a descrer de tudo, de quase todos, e implodiu dentro de si uma bomba de explosões grandes e pequenas e de contínua recarga de mais e mais explosivos que vão sendo produzidos dentro da mente, esta agora bastante danificada.
Enquanto na metrópole sofria, mas sentia uma esperança obsessiva de que tudo teria um fim positivo e seus circuitos seriam restaurados e sua energia recarregada dentro da sua liberdade de Ser protegida novamente apenas por si mesma... Mas os dias passavam, com lentas horas de desesperos e expressos instantes de alegria, porém muito intensos dentro da sua mínima  existência. Os artifícios poderiam se tornar perigosos no caminho de uma busca ainda mais desastrosas por momentos de paz e esquecimento da sua condição anormal, e mesmo sabendo que assim continuaria onde quer que estivesse, resolveu aceitar o convite para fugir, e mais uma vez fugiu e na fuga deu mais um passo para dentro do abismo da sua fragilidade que não aceitava a crueldade humana. Agora os dias entraram num vácuo entre o que pensa da sua realidade e o que os envolvidos querem que ela acredite como a realidade verdadeira e esqueça tudo o que experimentou e sentiu e sofreu e viveu, abandonando-a à solidão da sua loucura...
Com os circuitos adulterados sente que não é mais uma alma intereira, tem apenas ocupando o corpo invadido por estranhos componentes, um fantasma de si mesma, do que era antes de sentir-se usada pela ciência.




(Antigo projeto com fontes)

Mais de DominGo.

Seria um domingo diferente,se fosse possível,
fazer diferente.
Não seria, não mais.
Porém, já seguira maquinalmente
as normais necessidades de um corpo e uma alma,
digamos, sãs?
A cada dia tudo parecia estranhamente
como um roteiro a ser seguido.
Posições já pré-estabelecidas,figurino adequado,
texto decorado,
e todas as emoções
absolutamente
convincentes!
Até que o Diretor
-Que é onipotente, onipresente e onociente-
Enfim, satisfeito,
diga,
"Corta!"
Abria a porta e esperava respostas.
Não as tinha, então as criava,
À sua razão e semelhança.
Mas era domingo
e o sol latejava
em amarelo fogo.
E era possível sentir-se queimando,
o corpo dizendo, "Existirmos!"
E a mente comandando,
"Existiremos!"
E eram convientes
em seus devidos papéis.
Mas era preciso, nalgum momento,
sair de cena e Ser a si mesmo.
Era perigoso.
Mas por vezes valia à pena.
Todos ousam, vez por quando.
Sempre encobertos por seu direito à privacidade
do seu livre arbítrio.
Mas e quando se é invadido
no seu direito,
e seu mundo é desfeito,
e esse ser é condenado,
a passar a interpretar,
o tempo todo, por não
ter seguido o roteiro?
Era mais um domingo, mas ouvia o Beet.

E...

Deixar-se
Cair
abissalmente
no vazio
da desolação.
A loucura
não sanada
e acuada,
a ponto de
abruptamente
abrir rupturas
no limiar
da razão.

Sub missão.

Ok!
Acabou-se.
Mas continua.
Então, sigamos
os caminhos
do improvável.
Agora
o inviável
é existir.
Mas, segue-se
lutando,
árduamente
para demonstrar
Querer.
Ir em busca
de Ter
para alçar
Ser.
Ok!
Há vencedores
por sobre
as perdas!

domingo, 18 de setembro de 2011

Sem Volta.

Olhou em volta, e a noite era de um tempo azuladamente negro com tons de nuvens encarnadas.
Voltou-se para dentro e observou seu próprio mundo, destruído.
Desterrado.
Desolado.
Sabia que no mundo de fora teria que encontrar caminhos para a reconstrução do seu próprio mundo.
Perguntava-se agudamente sem convicção.
"Valeia à pena?"
E procurava vislumbrar o tempo que se lhe desentolava à frente, lentamente devorando os dias em que se adia algumas respostas.
Buscas.
Lutas.
Lutos.
Mantinha-se então sobrevivente da sua própria catástrofe, esforçando-se para reagir como se tudo já houvesse ficado no passado, e na nova porta aberta, era preciso ter eficiência e normalidades formais.
Então por que não se entregar de todo ao novo?
O novo era-lhe um pouco similar à causa da sua tragédia pessoal, e por mais que tentasse, sentia-se apenas automáticamente seguindo os comandos que lhe são ativados, exigidos.
Se começasse a ter muitos sentimentos poderia ser que fosse ativado um outro começo para um outro fim.
Tudo muito frágil.
Mas era preciso se reconstruir à partir de qualquer ponto, à partir dali, talvez.
E depois do nada mais,
a paz sufocante do vazio.
Sem voz..
Sem visão.
Ampla vastidão
habitada pela solidão.
O nada ter
para Ser.
O apenas viver
com vagar
sem qualquer rumo.
O desencanto.
O desencontro.
A falência da magia.
O medo.
A covardia.
E tudo alimenta um deserto
sufocado no Nada.