terça-feira, 16 de julho de 2013

O mar movia-se tranquilo e imensamente, azul.
A casa era toda em madeira envernizada e vidros.
O entorno da casa era quase todo em deleite de um mar azul.
A celestial abobada trazia um amarelo reluzente que enchia tudo de muita claridade.
As duas mulheres olhavam para o que um dia fora uma varanda. O azul beirava a porta
de entrada para a casa. A visitante olhava para os pés de ambas, descalços sobre o piso envidraçado. O azul límpido parecia cercar mesmo toda a casa, como se esta boiasse fixamente quase ao meio de todo aquele azul.
No horizonte via-se uma cordilheira feita de falésias em argila de várias colorações.
Mas aquilo parecia não causar nenhum temor aparente, não parecia uma ameaça, mas
na visitante causou um certo gosto de claustrofobia.
A dona daquela casa trazia a condolência de quem acostumou-se àquele lugar e àquela casa.
construída à beira de um mar que se fazia ainda mais perigosamente próximo, mas ela Atenuava o medo mantendo-se na sua crença, além de confiar na estrutura da casa que já convivia com as idas e vindas daquele mesmo mar por um longo tempo...
Mesmo assim a visitante pode sentir qualquer coisa exitar entre uma afirmação e outra, e por
isso não acreditou na coragem daquela mulher mais velha, soou mais como conformidade diante do que o destino ou o acaso pôs em seu caminho e ela tenha deixado que tudo virasse uma imposição da vida.
A visitante deixou a casa dizendo o quanto era bela, mas ela não se submeteria ao mar, nem mesmo numa casa feita do mais puro aço. Não era apenas uma questão de segurança, era mais uma questão somática, ela, a visitante, não suportava ver-se cercada por nada, sem uma saída possível e prática, detestava sentir-se acuada ou mesmo presa, por mais belo que fosse o castelo e a paisagem que o cercasse.
A dona da casa disse entender o porque dela, a visitante, andar quase sempre sozinha.
Despediram-se sem festas nem apatias. 
... e o sol já avermelhava outro caminho, onde a visitante, agora viajante, percorria até ouvir o choro agudo e seco de uma criança.
Havia um quê de comoção no entorno, e uma mulher deleitava-se entre venenos e carnes.
Tudo parecia ser de muito vermelho.
Localizou a criança seguindo sem pressa o som do choro e a encontrou dentro do que parecia ser uma pequena gaiola.
A criança em posição fetal, sofria o calor que vinha de uma fornalha perto de onde a gaiola estava pousada. A gaiola parecia já estar em brasa.
Retirou a criança muito rosada, nua, ainda com restos em seu pequeno corpo. 
Sentindo aquele pequeno frescor de liberdade a criança parou de chorar e aninhou-se ao colo da viajante.
Esta pegou uma ponta da sua longa saia e limpou como pode a criança. Mas ela pareceu completamente alva, apesar de ainda um tanto avermelhada seguindo lentamente para o seu tom natural.
Foi até a mulher que servia e servia-se das miudezas mundanas e chamou-a  para o lado de fora do que parecia ser uma taberna medieval. A mulher não resistiu. 
Ao chegar a um banco na rua, a mulher extasiada deitou-se suavemente, as saias do seu vestido serviram de cobertor sobre o banco, e ela recebeu a criança em seus braços. Amamentou-a e depois a deixou rente ao seu ventre, e dormiram ambas em posição fetal.
A viajante notou que a noite já pesava num negrume de poucas estrelas, e até já fazia um pouco de frio. Ajeitou a manta sobre seus ombros e saiu dali em direção a uma porta penumbrada que surgira do outro lado da rua, bem por trás da fornalha.

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