quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Um conto de Natal.

Queixava-se na sua intensa e quase proposital solidão,
de questões materiais que maculavam a data tão festejada e festejada,
e quase em nada levada ao íntimo e ao verdadeiro significado.
E essa era uma forma de solidão sentida por poucos mundo à fora àquela hora.
E de súbito percebeu que em um ato falho fez um talho na sua convicção.
Sentiu-se humilhada e hipócrita ao mesmo tempo em que condenava-se à tortura
de censurar-se por sentir que aquele tipo de contaminação também estaria
um pouco arraigado à sua vida sem muitos alcances e quase nenhuma perspectiva
positiva para os próximos dias em agonias que só a si pertencia.
Lá fora a festa escorria entre goles etílicos e sabores diversos.
E sabia que em alguns lugares aquela cumplicidade espiritual até resistia
aos encantos de luzes e consumos, ia além da alegria da satisfação física.
E em alguns lugares os lares estavam preservados em sua essência fraterna
e isso consolava um pouco, aplacando a tristeza sua e somente sua de não possuir
nem uma coisa qualquer que invadisse o vazio em que havia mergulhado a sua
boa vontade em acreditar que talvez pudesse ser diferente e ao estar em meio a sua
gente sentir-se realmente em companhia do espírito natalino.
Nada aconteceu. Preencheu a noite com o sono encantador de dores e frustrações,
e deixou-se cair no abismo do impenetrável, até outro dia trazer o sol e as condições
para permanecer sobrevivendo a si e ao que existe de humanidade ao seu redor.

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